domingo, 5 de fevereiro de 2012

Dia 15 de outubro de 2011 - O dia mais triste da minha vida...

Era um sábado, eu preocupadíssima em saber notícias da Gabriela. Quando liguei lá pra saber, mais notícias ruins. Ela havia piorado mais e a médica pediu para que fossemos pra lá. Assim fizemos e logo ao entrar na UTI, a médica veio falar comigo, pediu pra que não deixassemos ela se mexer muito, pois os movimentos iriam interferir nos batimentos cardíacos e na respiração dela que não estavam bons. Cheguei perto primeiro, e lá estava minha princesa, quetinha, quase não se mexia, respirava cansada...
Coloquei minha mão na cabecinha dela e comecei rezar. O Lucas chegou. Abriu a portinha da encubadora e colocou a mão nas perninhas dela. Acho que ela estava com saudades do papai, tinha ficado 1 dia sem vê-lo... Começou se mexer pra tudo que era lado, eu corri falar com a médica. Os aparelhos começaram apitar.
Perguntei se o antibiótico ainda ia demorar pra fazer efeito, ainda com a certeza de que tudo ia ficar bem. Ela me disse que levava 3 dias pra fazer efeito e acrescentou: Mas é muito grave!
Me disse que o antibiótico forte estava paralisando os rins, e por isso ela estava tomando um diurético para desinchar, e também estava afetando o coração.
Voltei pra perto da encubadora, e ela não parava. Eu tentava segurar e acalmar ela pra ela ficar quetinha, mas cada vez mais máquinas apitavam, até a enfermeira me pedir licença para um procedimento. Fiquei olhando de longe, ela estava bombeando oxigênio manualmente, então a médica nos pediu licença por alguns minutos e eu já estava chorando muito...
Deixamos nossas coisas lá dentro, achamos que seria rápido. Encostamos na porta da UTI, pelo lado de fora e ficamos aguardando um milagre.
Passaram alguns minutos e eu ainda ouvia tudo apitando. A médica apareceu na porta e nos pediu pra entrar e pegar nossas coisas, segundo ela a visita teria acabado porque iam ter que cuidar dela e não sabiam quanto tempo iria demorar. Nem pude mais chegar lá perto. Já tinha muitas enfermeiras e médicos ali.
Disse um tchau de longe e saí arrasada.
Ficamos na frente do hospital por mais uma hora, liguei lá na UTI e ainda ouvi todos aparelhos apitando. Decidimos ir embora, não iam deixar a gente entrar mais. E eu tinha certeza que ela ia sobreviver.
O caminho aquele dia foi longo, caiu uma chuva que nunca vi igual. O céu parecia estar chorando, era um sinal de que algo de muito triste iria acontecer.
Chegamos em casa, e eu estava firme, apesar de arrasada. O Lucas saiu para buscar algo pra comer, eu fiquei em casa sozinha e liguei para o meu pai. Contei a ele sobre o que tinha falado da minha vó, disse que Deus estava me castigando por isso.
Ele me explicou que Deus não castiga, que jamais faria isso comigo porque Deus é amor. Me falou tanta coisa bonita que eu fui acalmando então ele me disse que tinha que desligar porque tinha outra ligação.
Em seguida o Lucas chegou, ele havia trazido meu bolo predileto de sobremesa, então começamos a comer. Antes da 1° mordida, a campanhia tocou. Achei que fosse meu primo querendo saber da Gabriela e fui lá ver.
Saí no portão e dei de cara com a tia Dirce, depois com o tio Arthur, titia Edna, Luiara, Rafael e Arthurzinho... e ainda exclamei: Nossa!!!
Foi então que minha tia me disse: Aii fia... a tia não tem uma boa notícia pra você...
Ela não precisou dizer mais nada... eu saí correndo gritando o Lucas, que também entendeu tudo pelo meu desespero. Ele me abraçou no meio do quintal e ali nós ficamos alguns minutos. O abraço dele foi confortante, seguro... mas eu queria correr, queria gritar, queria entender o por quê... Por quê comigo? Por quê com a nossa filha?
Por quê? Por quê? e Por quê? Eu me soltava daquele abraço, meio sem rumo, meio sem saber pra onde ir, o que fazer, pra onde e quem correr e ele me abraçava denovo. Ele também precisava de apoio, de abraço, ele também precisava entender o por quê...
Tivemos que tomar as providências em relação a funerária, eu não consegui ir junto.
Corri para o quartinho dela, que ainda não estava pronto, mas estava com todas as coisinhas dela de RN em cima da cama, pois logo eu teria que lavar pra ela usar na UTI, e comecei escolher uma roupinha.
As roupinhas que eu tinha comprado com tanto amor, pra ver ela usando, que iam deixar ela mais parecida ainda com uma bonquinha, agora serviriam de enfeite para um caixão.
Eu não podia me conformar com isso. Como doía...
A madrinha dela quis comprar uma outra roupinha, e assim fez. Fiquei em casa, ainda sem rumo... mas eu estava forte. Difícil mesmo foi falar com meus pais. Eu não suportava a idéia de ter dado essa decepção pra eles. Eles sonhavam com essa neta mais do que tudo na vida, ela era a alegria deles, e não tinha um dia sequer que eles não diziam o quanto a amavam...
Tudo resolvido, a situação acalmou, ficamos sozinhos em casa. Agora era só nós dois de novo. Eu e o Lucas... já não mais uma família, voltamos ser apenas um casal.
Lembro que eu abracei ele no nosso quarto e disse: Eu não queria outro, eu queria ela! e ele me respondeu: Eu também queria ela.
Aquilo foi pra mim um alento tão grande, pois cada dia mais tinha a certeza de que ele amava nossa filha desde quando soube que eu estava grávida. Coisa que ele nunca admitiu muito...
Era mais de meia noite e recebemos a ligação avisando que o corpinho dela estava já no velório.
Enfim o meu 1° beijo na minha filha. O tão sonhado beijo foi dado ali, num velório, num caixão. Mas foi dado, muitos...
Passamos a noite ali, colocamos uma cadeira do lado do caixão e ficamos ali. Logo a tia Dirce, tio Arthur e titia Edna chegaram.
Quando foi umas 6 da manhã chegou a tia Gê e o Baiano, logo depois o Alan, que me deu um abraço... um dos mais intensos que recebi.
Ficamos ali... Cada pessoa que chegava dizia o mesmo... Como ela era linda....
Muita gente compareceu, meus amigos, minha família, conhecidos...todos pareciam incoformados com tanta crueldade.
E eu rezando pra acabar logo e pra não acabar nunca. Não sabia se queria ir logo pra casa, ou se queria ficar ali com ela, afinal nunca mais ia ter a chance de ver aquele rostinho tão meigo, aquelas mãozinhas tão delicadas, aquela boquinha que segundo minha tia Edna, parecia desenhada a pincel.
Doía tanto... era uma dor que eu costumo definir como dor da alma. Não doía a carne apenas, o coração, doía além disso... Doía o corpo, a cabeça, as mãos, doía os olhos, o peito, doía realmente a ALMA.
Quando meus pais chegaram foi uma tristeza ainda maior. Sentia ódio de mim por causar uma dor tão grande pra eles... como se tivesse sido uma escolha minha.
Muita gente esteve lá. Uns com o corpo, outros com o coração apenas, mas estiveram, e eu agradeço a cada um deles, que partilharam a minha dor comigo...Porque amigo é justamente pra isso e eu pude ter a certeza de que meus amigos são de verdade.
Até pessoas que eu estava brigada, que não conversava há anos apareceu e isso me fez muito bem. Obrigada mesmo.
A hora de fechar o caixão chegou, eu dei meu último beijo na minha princesa que já tinha me dado tantas alegrias e saí de perto...mas tive que voltar, tive que tirar meu pai de lá, que parecia querer tirar ela dali e sair correndo. Tava nítido o desespero no rosto dele, ele amava a Gabriela mais do que me ama....
Tudo acabou!!!!
Chegamos em casa eu eu decidi ser forte, fui até o quartinho dela, recolhi todas as coisinhas, encaixotei tudo em menos de 10 min. Queria o quarto limpo para meus pais. Eu podia sofrer até morrer, mas não queria ver eles sofrendo.
À tarde deitei pra tentar dormir um pouco e acordei num desespero. O Lucas com a maior paciência do mundo, mesmo dps de umas 32 horas sem dormir pegou o carro e me levou dar uma volta. Ficamos andando sem rumo, até que eu parei de chorar e pedi pra vir embora, ele precisava dormir....

8 comentários:

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  2. Perdoar pelos milhões de vezes que vc ligou? Pelas inúmeras mensagens que mandou? Perdoar por ter estado as vezes em presença e as vezes em coração comigo?
    Jamais teria o que perdoar, só a agradecer a Deus por ter amigos como você...porque amizade é isso... é saber entender que as pessoas também sente dor alem de mim... e eu sei que vc sentiu...
    Amo vc irmã!!!

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  3. Vc me fez chorar! rsrs..
    É que é muito estranho pra mim a convivência diaria que a gente tinha não acontecer mais... o tempo passou de um jeito muito louco, o tempo atropela a gente, empurra a gente sem a gente pedir ou querer... Sinto uma falta danada das nossas horas sem fim... conversando,se entendendo, rindo, pensando que tocava violão(rsrs).. sendo irmãs... AMO VC!

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  4. É... o tempo não perdoa...mas o melhor de tudo é isso... é que a gente sente saudade.... e isso quer dizer que foi muito bom...
    Ficaria triste se o tempo ou a distância separasse a gente pela convivencia com outros amigos, mas fico feliz em saber que o motivo que nos afastou um pouco é que construimos familia... não somos mais solteiras e sozinhas.... Hoje temos a NOSSA família... e esse é um motivo nobre...
    A gente sempre vai estar juntas.... as vezes em pensamentos, as vezes em corpo e as vezes em espirito.. mas sempre JUNTAS...

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  5. Oi Nanã, vi teu recado em meu blog e como com você, aconteceu o mesmo comigo, comecei a ler e ñ pude mais parar, li tudo desde o comecinho e parei aqui... Não posso continuar, não agora... Mas salvei em meus favoritos e voltarei a ler... TUDINHO...
    Lendo como tudo começou, como tudo aconteceu e como tudo chegou até aqui 15/10/11 Lagrimas rolaram, iam caindo pouco a pouco até chegar aqui e disparar desesperadamente o choro da dor... Como entendo sua dor, Esse dia tão cruel,tão injusto, tão horrivel... Lembro-me que no mesmo velório ondeestava minha Pequenininha,do outro lado tinha um Senhor ja bem de idade, e eu pensava... Esse Senhor ja viveu bastante e minha Filha estava começando a vida, não podia imaginar que em outro local, outro velório havia outra Pequenininha com a vida toda pela frente... Como entender??? Como aceitar uma coisa dessas??? IMPOSSIVEL... Minha vida acabou nesse mesmo dia 15/10/11... Enterrei com minha filha tudo o que havia de melhor em mim, TUDO... O que restou??? A esposa do Ricardo alguem que sofre e precisa do meu apoio, a Mãe da Karoline e Gabriela minhas outras 2 filhas ainda em fase d crescimento... Mas EU, Fabiana, Mamãe da Letícia, aquela que acreditava em Deus, que tinha fé, esperança, CERTEZA... Essa ñ existe mais... Morri aquele dia 15/10/11 e todos os dias morro um pouco, nunca mais serei completa, falta um pedaço de mim... Sei que sofre como eu, sua Gabi é uma Anjinha linda, é uma jóia... Cristalzinho!!! Abraço grande... Sinto muito por nós... Conte comigo, afinal temos algo em comum, somos mães de Anjos!!!

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  6. Sinto essa dor tb, ñ pude ir no enterro da minha filha pois estava muito mal, estava com 07 meses de gestaçao, da minha pequena Sofia, chorei muito com sua história...Bjos e fique com Deus... nossas anjinhas estam juntas!

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  7. É nanã sei bem o que é isso, no enterro da minha filha eu não tive condições. Só quem sabe a dor de enterrar um filho é quem sabe...pois altera a ordem das coisas.
    Me despedir da minha filha na UTI, pois só peguei a minha bebê no colo ela já não estava mais aqui. Ali eu vi que não tinha condições de ir no enterro.

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  8. Estou te escrevendo com lágrimas rolando em meu rosto, senti como se fosse comigo que tudo aconteceu. Nanã com sua história de vida pude dar mais valor na minha vida na minha filha , no meu Marido. Sei que nem me conhece pessoalmente mais já torço muito por você pelo seu Davi que está a chegar , que de tudo certo pra vocês. Obrigada por compartilhar sua História com a gente, Isso ta recuperando vidas. Fiquem com Deus.

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Obrigada por comentar... Obrigada pela força sempre!!!